Neste primeiro semestre de 2012 estreiou nos Estados Unidos a mini-série “Hatfield & McCoys - Nunca Perdoe, Nunca Esqueça”1 que conta a saga de duas famílias e a rivalidade que entre elas cresceu após a Guerra Civil americana, em fins do século XIX. Kevin Costner e Bill Paxton são os respectivos patriarcas das famílias Hatfield and McCoy nesta mini-série de três capítulos.
Fazendo genealogia já há alguns anos sempre me surpreendi aqui e ali com alguns fatos na história de minha família, mas o que irei contar abaixo foi de todos o que mais se destacou e que não deixa de ser um paralelo com a história das duas famílias acima e o espírito de vingança que foi suscitado através das animosidades entre membros das duas famílias.
Toda a informação que você irá ler abaixo é baseada em
pesquisa que venho fazendo em livros e jornais da época, em meu tempo livre. Ë
somente uma breve descrição do que aconteceu entre os anos de 1842/1843 e culminou com o assassinato de Antonio Francisco
do Rego Barros, meu tetravô, dono do Engenho Genipapo, situado em Rio Formoso,
Pernambuco, Brasil.
“Olho por olho” era uma expressão comum e muitas vezes
“lei” paralela à lei oficial no Brasil do século XIX. Vendeta e coronelismo era
parte do dia a dia de muitas famílias no nordeste brasileiro. Onde existia a
atividade rural, exercida em largas propriedades de terra nos nossos tão característicos “engenhos”,
também existia esta prática política. Em 1840 muitas famílias viviam sob
constante perigo, minha família era uma delas.
Minha descrição tem o intento de somente ser
informativa, ao lada da genealogia, já que o lado paterno de minha família
estava envolvida nesta trama. Para compreender mais profundamente o ocorrido no
Engenho Genipapo preciso ir além na minha pesquisa e trazer a luz novas
informações.
O Professor de História da Tech Texas University, J.
Mosher, em seu livro Political Struggle, Ideology and State Building2, descreve a situação política da Província
de Pernambuco entre os anos de 1815 e 1850 e, resumidamente, o assassinato de
alguns membros de minha família, entre eles o de meu tetravô Antonio Francisco
do Rego Barros, no Engenho Genipapo. Eu também tive oportunidade de ler um dos
jornais da época, o Diário Novo, o qual descreve o assassinato extensivamente,
em várias de suas edições, além de outros crimes que assolavam aquela Província
na época.
13 January 1843
Tudo começou com a morte do
tenente-coronel Pedro Cavalcanti Uchoa, adjunto da polícia local de Rio
Formoso, nas matas do Engenho Genipapo, em 16 julho de 1842.3 Prontamente
veio a reação àquele incidente com ataques a propriedade do Engenho acima. Este
fato deu inicio a uma série de outros.
Antonio Francisco viajou da capital da
Provícia para o Ceará em busca de proteção e enquanto lá estava, além dos
ataques a sua propriedade onde teve suas plantações queimadas, dois de seus
sobrinhos foram mortos e outro ferido como podemos ver abaixo nas palavras do
Deputado Nunes Machado, em sessão de 25 de Janeiro de 1843, na Câmara dos
Deputados:
“...é agredida segunda vez a sua propriedade, o seu
engenho é saqueado, a sua casa de vivenda do mesmo modo, e ai a pretexto de
correr as casas, por presumções de existencia de armamento, teve esta
diligencia em resultado (diligencia sempre apadrinhada com as cores de
autoridade publica) serem assassinados dois individuos em presença da senhora
de Antonio Francisco , individuos pertencentes á sua familia, um sobrinho e um
cunhado, escapando uma terceira victima toda baleada...”4
Em 2
de Janeiro de 1843, Antonio Francisco decidiu voltar para Pernambuco com um
grupo armado. Sua mulher, Maria Marroquina de Jesus Nazareno estava grávida e
pronta para dar à luz, este seria o décimo filho do casal. As animosidades só
vieram a crescer no Rio Formoso com a sua volta.
Em 7 de Janeiro de 1843, dois dias após o nascimento do bebê, o
Engenho Genipapo acordou sabendo que aquele não seria um dia como os outros e
suas vidas viriam se transformar para sempre. O engenho ficou sitiado por mais
de 12 horas pelo delegado suplente de Rio Formoso, sua tropa e inimigos de
Antonio Francisco, ao todo em torno de 200 homens, até o trágico
desfecho que se formou naquelas terras.
O 10. Comandante da Polícia, Miguel Afonso
Ferreira, enviado pela capital da Provícia de Pernambuco, chegou pouco depois
do crime e foi incapaz de fazer qualquer coisa, mas somente tentar ajudar a
viúva e os filhos que pediam proteção do Governo.
Em relato do dia 11 de Janeiro ao Presidente da
Província, o Barão da Boa Vista, o Comandante Miguel Afonso descreve o que
encontrou:
“Quando entrei na cada de vivendo do engenho
Genipapo achei o cadaver do finado Rego Barros (já tinha sido informado da sua
morte) no assoalho, coberto com um lençol, tendo a seus pés sua infeliz mulher,
que de joelhos pedia a proteção do governo. Tão lastimoso era o seu estado, e
tão pungente era a sua dor e a de seus filhos, que fizerao todos banhar-se em
lágrimas; e nada puderam naquela ocasião informar, senao que as fechaduras das
portas tinham sido arrancadas por ordem do delegado, e a porta do quarto da
casa de vivenda, em que estava o infeliz Rego Barros, tinha sido arrombada a
machado pelos assassinos. É isso o que tenho a honra de levar ao conhecimento
de V. Ex.”5
Minha tetravó,
Maria Marroquina, mulher de Antonio
Francisco, se mudou para a Província da Paraíba com todos os filhos, vendendo
depois o Engenho Genipapo para outra família.
Dois dos filhos de Antonio Francisco e Maria Marroquina do Rego Barros, são meus trisavós. Eram eles Claudino do Rego Barros e Maria das Merces. Claudino se casou com Josepha Antonieta Vasconcellos, filha de José Teixeira de Vasconcellos, Barão de Maraú. Maria das Merces se casou com Antonio Ferreira Balthar. Seus filhos, primos irmãos e meus bisavós Amalia do Rego Barros, filha de Claudino e Josepha, e Antonio Ferreira Balthar Filho, filho de Antonio e Maria das Merces, se cararam em 18 de Abril de 1880, no Engenho Munguengue, na Paraíba.
Escritura de venda do Engenho Genipapo
Dois dos filhos de Antonio Francisco e Maria Marroquina do Rego Barros, são meus trisavós. Eram eles Claudino do Rego Barros e Maria das Merces. Claudino se casou com Josepha Antonieta Vasconcellos, filha de José Teixeira de Vasconcellos, Barão de Maraú. Maria das Merces se casou com Antonio Ferreira Balthar. Seus filhos, primos irmãos e meus bisavós Amalia do Rego Barros, filha de Claudino e Josepha, e Antonio Ferreira Balthar Filho, filho de Antonio e Maria das Merces, se cararam em 18 de Abril de 1880, no Engenho Munguengue, na Paraíba.
Claudino do Rego Barros, filho de Antonio Francisco
Antonio Ferreira Balthar Filho, meu bisavô, estudou na
primeira Faculdade de Direito do Brasil, se tornando advogado, Chefe de Polícia
e Desembargador, na Paraíba. Desde então tudo ficou em paz na família e agora faz parte da
história.
P.S. Quero agradecer, especialmente, a meu primo e genealogista Adauto
Ramos pelas fotos de minha família como também nomes e datas na minha família
paterna; e a Fabio Arruda, genealogista, pesquisador de
famílias brasileiras e engenhos do Nordeste do Brasil, o qual me forneceu
precisa localização do Engenho Genipapo e escritura das mesmas terras. Ambos
são membros do Colegio Brasileiro de Genealogia - http://www.cbg.org.br/
- "Hatfieds and McCoys"
- Jeffrey Mosher
- Newspaper research in Brazil - http://myportuguesegen.blogspot.com/2012/06/newspaper-research-in-brazil.html
- Anais da Câmara dos Deputados, 1843. Vol. II, Parte I. Google Books
- Relatorio de todos os fatos ocorridos no engenho Genipapo desde o dia 5 até o dia 7 de Janeiro de 1843. Anais da Câmara dos Deputados, 1843. Vol II, Parte I. Google Books.
- Mosher, Jeffrey C. Political Struggle, Ideology and State Building – Pernambuco and the Construction of Brazil, 1817 – 1850. University of Nebraska Press. 2008.
- History Magazine, May/June 2012
- Diario Novo. 1 Agosto 1842, 13 Janeiro 1843, 18 Janeiro 1843. Biblioteca Nacional Digital
- Arquivo Público do Estado de Pernambuco - Registro de Terras Publicas - 1858,1859 - Vol.5. Rua Imper Dom Pedro II, 371 - Santo Antônio Recife - PE, 50010-240, Brazil -tel:81 3224-0620
Olá Isabella Baltar,
ReplyDeleteSempre é bom ler um pouco da história da família Baltar, pena que na Internet pouco se acha.
Meu pai, assim como meu avô, tem sobrenome Ferreira Baltar. Sinto pena que o meu grande interesse de saber mais sobre minha família se deu após o falecimento deles, eles deveriam ter muitas histórias para me contar.
O pouco que sei é que, meu avô Romeu Ferreira Baltar teve vários irmãos, o meu pai Romeu Ferreira Baltar Filho nasceu em Rio Formoso-PE, uma curiosidade é que o nome da maioria dos membros da família começavam com a letra A.
E agora conheci um pouco mais da história através de você.
Forte abraço.
Olá Rodolfo, que bom que veio até o site e conheceu um pouco mais sobre a família. Nossa busca genealógica muitas vezes acontece mesmo depois que não temos mais nossos pais por perto, acho que é a vontade de resgatar e manter viva a memória. Quanto a letra A, é verdade, a família sempre usou esta letra em todos os filhos. Somos todos descendentes de Antonio Ferreira Balthar que se casou com Maria das Merces do Rego Barros. Abraço para vc também.
DeleteOlá Rodolfo, que bom que veio até o site e conheceu um pouco mais sobre a família. Nossa busca genealógica muitas vezes acontece mesmo depois que não temos mais nossos pais por perto, acho que é a vontade de resgatar e manter viva a memória. Quanto a letra A, é verdade, a família sempre usou esta letra em todos os filhos. Somos todos descendentes de Antonio Ferreira Balthar que se casou com Maria das Merces do Rego Barros. Abraço para vc também.
DeleteFazendo pesquisas sobre engenhos me deparei com diversos túmulos de pessoas falecidas no Engenho Munguengue (LOCALIZADO EM ESPIRITO SANTO-PB) todos túmulos estavam violados, sem identificação, mas um me chamou atenção porque era o único que tinha:"ANGELITA MINDELLO BALTAR, NASCIDA EM 22/07/1885 E FALECIDA EM 22/09/1917. Pergunto por curiosidade quem foi essa moça que morreu tão jovem com apenas 32 anos? Se alguem souber favor me avisar através do email: chmangabeira@gmail.com, meu nome é Gilberto Melo. Abraços
ReplyDeleteGilberto, irei entrar em contato com você brevemente. Tenho muito interesse no que encontrou e tenho informações que talvez lhe interesse também. Obrigada por entrar em contato. Isabella Baltar.
DeleteFazendo pesquisas sobre engenhos me deparei com diversos túmulos de pessoas falecidas no Engenho Munguengue (LOCALIZADO EM ESPIRITO SANTO-PB) todos túmulos estavam violados, sem identificação, mas um me chamou atenção porque era o único que tinha:"ANGELITA MINDELLO BALTAR, NASCIDA EM 22/07/1885 E FALECIDA EM 22/09/1917. Pergunto por curiosidade quem foi essa moça que morreu tão jovem com apenas 32 anos? Se alguem souber favor me avisar através do email: chmangabeira@gmail.com, meu nome é Gilberto Melo. Abraços
ReplyDeleteAffonso Ferreira Baltar, filho de Eduardo Ferreira Baltar e Joaquina das Neves Cruz. Affonso foi padrinho de meu tio trisavô Pedro Pascasio de Miranda.
ReplyDeleteVocê saberia me dizer a ligação dos Ferreira Baltar com os Miranda e os Neves?
Gilberto, eu não sei a qual a ligação entre as famílias que vc mencionou. Qual a localidade do seu Ferreira Baltar ?
ReplyDeletehttps://www.youtube.com/watch?v=RZUSC1lkw6A
ReplyDeleteMarcio, muito obrigada pelo envio do link para o seu vídeo no YouTube da Capela da Bahia do antigo engenho Maranhão, e segundo informacão de meu primo Adauto Ramos, genealogista de João Pessoa. O túmulo que você documentou é de Angelita Mindello Baltar. Angelita era filha do Coronel Alípio Ferreira Baltar e sobrinha de meu bisavô, o Desembargador Antonio Ferreira Baltar. O Coronel Alípio era o dono do Engenho Munguengue que se situava nas cercanias da Capela e Cemitério da Bahia - a que você documentou no seu vídeo fazia parte do Engenho Maranhão, segundo meu primo. A Usina local comprou as terras de vários engenhos e infelizmente o patrimônio foi deixado ao acaso e tem se deteriorado ao longo dos anos de maneira lastimável. Quando meu primo Adauto visitou as ruínas há alguns anos atrás a capela e ainda possuia telhado. Isabella Baltar
DeleteFaço correção no meu comentário acima: Angelita Mindello era filha de Abílio Ferreira Baltar e Ana Adelaide de Lima Mindello. Ela casou-se com o Alcides Ferreira Baltar, este sim filho do Coronel Alípio Ferreira Baltar.
Delete